sexta-feira, 8 de julho de 2011

Fim


Ela encarou o chão por alguns segundos. Os segundos mais longos de toda a sua vida. E fechou seus olhos antes de, quase que imperceptivelmente, afirmar que sim com a cabeça.
Ele fechou o olhos. Ela gostaria de saber o que se passava em sua mente. Mas sua cabeça estava completamente vazia. Toda a sua concentração se encontrava em seu peito, que parecia querer fugir de casa e nunca mais voltar.

A pergunta foi refeita, vagarosamente, como se as palavras pudessem explodir ao sair da boca e tocar os ouvidos ou se perderem por conta da forte ventania. Imaginária.

Ela piscou forte tentando bloquear a passagem das lágrimas e dessa vez funcionou. Ela fez que sim novamente, ou ao menos pensou ter feito. Seu movimento foi tão contido e sutil que ela nem mesmo conseguiu percebê-lo.

Apesar da grande dor, a esperança de sentir novamente o cheiro de chocolate da manhã o mantia firme até o momento.
Mentira. O que ele mais desejava era sentir o cheiro do seu perfume, agora definitivamente impreguinado naquele delicado pescoço depois de uma boa noite de sonhos. E ele esperava estar em todos.
Não estava.

Ela lamentava por isso, não era sua culpa, mas seus sentimentos eram como o vento: mudavam sempre de direção, não eram vistos por ninguém, não tinham gosto algum. Por outro lado, tinham e péssimo hábito de tocar todos por onde passavam, de mover as coisas mais leves ao seu redor e sempre, [Droga!] sempre a fazer voltar e recolher tudo do chão, pôr tudo no lugar certo.

- Você tem certeza?
Foi quase um sussurro. Seu amigo vento, agora quase em furacão, carregou as palavras com muito cuidado e só as soltou com pouca distância da sua orelha direita.

Ele só percebeu o movimento porque o sol alcançou seus olhos durante um longo tempo. Na verdade milésimos de segundos, mas ele não queria acreditar. Não era sua culpa. Seus sentimentos não eram como o vento. Eram algo certo, específico, absoluto, imutável e permanente.

Por quê o vento é diferente?

- Está na hora...
- Não diga ainda... olhe para mim.

Foi um dos piores momentos de suas vidas.
Foi um desafio encará-lo naquele momento.
Foi um desafio ver aqueles olhos pela última vez.

Então o vento disse; e o som ecoou. E algo se partiu; e o som ecoou.

Nenhum comentário:

Postar um comentário