quarta-feira, 24 de outubro de 2012

Um Dia

Um dia  azul do céu vai contaminar o chão. 




Nesse dia o salto será voo. 
Nesse dia o bom dia será amor.
Nesse dia correr vai ser mágico.
Nesse dia viver vai ser muito mais.
Nesse dia amar será como contar estrelas.
Nesse dia sonhar será realidade.
Nesse dia dormir será despedida.
Nesse dia o pôr-do-sol será desperdício.



E nesse dia... 


E nesse dia eu vou estar no alto. Mais alto. Muito mais. 



Nesse dia...






Eu estarei empurrando o céu para baixo.


Sorria. Sorria porque o azul é seu, as nuvens são suas. O sol não te queima, te traz lembranças felizes. Aquelas que te aquecem. Do tempo em que você queria tocar o céu e não era possível. Sinta o azul te invadir  como uma brisa que te toca de leve e faz um vendaval. 

Fique feliz porque é tudo possível e é tudo seu.

sábado, 22 de setembro de 2012

Se Foi


A poesia se foi, quando fechei os olhos e minha solidão escorreu para fora de mim. 
Meu canto de foi, quando fechei os olhos, fora de mim.
O tempo se foi. 
Já se foi o tempo.
Tudo se foi.
E a minha alma se foi, quando fechei os olhos, sozinha.

quarta-feira, 19 de setembro de 2012

Delírio

Eu recomeço, viajo, me esqueço. Eu entro em transe, ando, desapareço. Eu acordo, sonâmbula, em coma. Eu desisto, deito, durmo. Eu desapego, flutuo, fixo. Eu fico cega, mastigo meu castigo. Eu me silencio, grito, esperneio. Eu sinto, procuro, vejo. Eu me contradigo, minto, fujo. Eu penso, falo, escrevo. Eu apago, reflito, recomeço. Eu estava, estou, estarei. Eu quero, consigo, celebro. 

Se vejo, sinto, contemplo. Se sinto, toco, acaricio. Se toco, sufoco meu fôlego e beijo.

Eu realizo, faço, refaço. Eu me orgulho, demonstro, me encanto. Eu me arrepio, no frio, toda noite. Eu sei, sempre soube, sempre. Eu cubro, descubro e acoberto. Eu me encolho, te acolho, te olho. Eu brinco, eu jogo, me divirto. Eu aprendo, desaprendo e finjo. Eu só acordo se escuto, se preciso. Eu conheci, cresci, aceitei. Eu ganhei, quebrei, colei. Eu já tinha, escondia, vivia. Eu encontrei, relembrei, finalizei. Eu finalmente, superei, suspirei. 

Se sou, vivo, ajo. Se vivo, vou, alto. Se vou, te encontro, sempre.

Sinto ele se aproximando ao mesmo passo que o seu. 
Não tenho como negar, correr, fugir. Eu me entrego, aceito, espero. Ele chega, você chega. Sinto o toque, a mente, o comando. E inesperado, é instintivo, é isto. 
Arrepio sem vento. Acelero sem pressa. Aperto sem força. 


Meu delírio, me mata, descomeço. 

domingo, 19 de agosto de 2012

Quem é você?


Sabia que você me faz flutuar?
Eu quero ficar no chão.
Sabia que você me deixa nas nuvens?
Eu quero ficar no chão.
Sabia que você me faz ver estrelas?
Eu quero ficar no chão.

Você me hipnotiza. Me tira da minha sanidade. Me faz parecer única em seu mundo. Me engana com esse sorriso lindo. Me faz tão pequena. Tão especial. Tão tola. 
Eu só quero ficar no chão. 
Quero a segurança que só ele pode me dar. Sentir que os meus pés não podem se mover sem a minha vontade, não podem ser simplesmente guiados. 
Preciso de segurança. Já se passou o tempo de sentir frio na barriga, mas não me faça enjoar. 

Não é pura felicidade, é felicidade pura. É disso que eu preciso. 
Quero continuar eu mesma. Não quero me transformar em um "nós" uniforme e amorfo.
Não quero me deixar para não te deixar. Quero conquista com mais do que se pode ver com os olhos. Porque dói. Mais em mim do que você. Muito.

E eu sei que se um dia você se for, eu perco parte do meu chão. Mas quero que você saiba que eu  posso me virar sem ele. Lembre-se que não preciso andar muito pra ir longe. Eu tenho minhas palavras. Meu carmas e sinas, deslizes e atropelos, fardos e desgastes. Mas eu ainda sou eu. E quando for só eu... doerá... mas eu vou ficar bem. Porque eu sempre fico. Sempre...

Pare.

Pare de me ter só pra você. Pare de me descontrolar. Pare de me desvendar. Pare de me causar tanta dor. Pare de ser alguém que eu nunca vi na vida. Pare de ser o meu maior medo e o meu maior amor.

Pode ser um erro meu. Posso te querer pra sempre, o tempo todo, só pra mim. Pode ser errado amar tanto... Pode ser errado querer nas mão mais do que eu posso segurar... 
É errado? É mais errado quando se repete? Acho que sim....

Preciso de certezas, emoções, atenção, segurança, cuidados... Preciso ME fazer de fortaleza e tirar você desse cargo. Porque eu sou mulher: a criatura mais frágil e mais forte que existe em todo o universo. E agirei como tal. 
Independente de quem você seja.

domingo, 12 de agosto de 2012

Feliz dia dos Pais


Era uma vez uma princesinha que vivia em um planeta de uma galáxia muito distante. A princesinha tinha uma amigo muito especial que estava sempre ao seu lado cuidando dela, sempre preocupado com o seu bem estar e a sua felicidade. 
Às vezes a princesinha estava tão ocupada com seus afazeres da realeza que não tinha tempo para o seu melhor amigo. Ele sempre a entendia, mas sentia muito a sua a falta... 
Um dia, o amigo da princesinha precisou ir pra longe, e a princesinha se sentiu muito só. Ela ficou triste e não entendia o motivo dessa separação tão repentina. 
Ela pensava no seu amigo especial todos os dias... Estava sempre distraída lembrando dos seus momentos juntos, das brincadeiras e das risadas... Sentia muito a falta dele...

Numa noite sem sono, ela abriu sua janela e ficou pensando no seu amigo. Então, enquanto olhava o céu, ela percebeu algo novo e muito inesperado! No céu estrelado do seu planeta, diferente do natural, havia mais do que 2 luas e milhares de estrelas. Havia uma terceira Lua, enorme e brilhante que clareava os vales do reino até onde a visão conseguia alcançar. A Lua era linda e despertava uma sensação única na princesinha. Uma sensação que ela já conhecia. A mesma sensação de carinho e conforto, de afeto e alegria que o seu amigo especial lhe transmitia. 
Naquele momento ela teve a certeza de que o seu amigo especial havia se transformado naquela nova lua do céu. Que ele estava longe, mas que ele continuava clareando seus caminhos e cuidando dela. Mantendo os pesadelos distantes enquanto ela dormia. Ele nunca se separou dela de fato, porque a distância pode ser maior do que os pés aguentam caminhar, mas não é preciso estar junto pra estar perto. O amor sempre dá um jeitinho. 

A princesinha estava tão orgulhosa por seu amigo estar tão brilhante, ele merecia, sem dúvidas, estar entre as estrelas mais belas do universo. Ele merecia todo aquele brilho e grandeza. 
Nessa noite, a princesinha estava decidida a crescer e se tornar uma luazinha ao lado do seu maior amigo e ficar pra sempre pertinho dele. E enquanto esse dia não chegava, ela pensava em seu amigo todos os dias e conversava com ele todas as noites. E fazia de tudo para orgulhá-lo e mostrar toda sua gratidão por tudo que ele fez por ela. Mostrar que ela reconhecia todos esforços dele para mantê-la segura e feliz. Mostrar que não importa se nem sempre ela dizia ou demonstrava, mas ela o amava muito. E que vai amar pra sempre.

Uma dia a princesinha vai crescer e vai orgulhar muito o seu pai, assim como ele a orgulha.
Feliz dia dos Pais. 

sexta-feira, 6 de julho de 2012

Entregue-se


Eu ouvi por muito tempo que não devo nunca me entregar por completo. Ouvi muitos depoimentos de pessoas que já passaram por muitas desilusões. Ouvi que as prioridades de uma mulher estão acima de namoros e amizades. Eu ouvi de todos, tanto os mais velhos quanto os mais jovens.
Mas hoje eu vim para falar. Para, finalmente, falar tudo que a aprendi com o que ouvi.

Aprendi que eu não sou boa em não me entregar... Desculpa mãe, pai, vó, amiga, amigo... Mas não sou mesmo.
Quando eu vejo a felicidade, eu me agarro. Quando eu me sinto bem, eu não hesito. Quando eu amo, eu me entrego. Eu não confio pela metade, não gosto pela metade, não sinto pela metade, não amo pela metade. Minha mente, alma e coração estão na mesma direção e quando eles não estão alinhados eu sei que alguma coisa está errada.
A sensação de  ter total certeza, de investir tudo de mim e dar sempre o meu máximo não me consome. Me motiva. Me acorda todas as manhãs antes mesmo de eu ir dormir.
Não quero dizer que nunca me decepcionei, mas quando isso acontece... Quando minha mente se engana, minha alma acredita e meu coração resolve desacelerar... Quando eu caio... Aí sim eu não me entrego, não me dou por vencida facilmente. Não sou de chorar pelos cantos. Eu decidi quando nasci, que só me entregaria ao que me faz bem, ao que evidencia felicidade, ao que me dá a possibilidade de futuras boas histórias para os meus netos, carregadas e ensinamentos e experiencias e gargalhadas
É isso. Decepções existiram, mas eu não aprendi com elas a deixar de me entregar às coisas. Aprendi com elas o que realmente vela a pena se entregar. Aprendi a nunca me arrepender por algo que fiz. Aprendi a pisar firmemente no chão. Não são os pés que procuram por armadilhas, são os seus sentidos. Cada detalhe diferente, fora do comum pode ser mais do que você pensa... Ou menos. 
Enfim, agora a moral da história: mantenha-se sempre atento a todas as situações, mas nunca hesite de nada que te faça feliz. E para descobrir se vale mesmo a pena se entregar a alguma coisa, sinta se a sua mente, alma e coração estão alinhados. Se eles te impulsionam. Quando estiver no caminho certo, eles o empurrarão. Pise com firmeza, mostre a sua certeza. E se não tiver certeza e mesmo assim quiser arriscar, não se arrependa, porque sempre existirão consequências, boas ou rins...


Mas quando tiver que ser... Entregue-se.

quinta-feira, 7 de junho de 2012

Vento


Sou como o vento, que em tudo toca, em tudo está, mas em nada fica.

Ideias.


"Por baixo dessa máscara não há só carne... Por baixo dessa máscara há uma ideia. E ideias são à prova de bala"

-V


Peguei aqui: Irrealidades 

sábado, 26 de maio de 2012

Perfeição - Parte II

  Não demorou muito para chegarmos. A carruagem estacionou na frente de um hotel que parecia antigo e acabado. Um casal de idosos, que imaginei serem os proprietários do local, nos aguardavam na entrada, abraçados e bem agasalhados por conta do frio que fazia a noite. Eles nos acompanharam até um saguão de entrada, onde funcionava a recepção e o senhor apanhou, atrás de um longo balcão empoeirado e descascado, duas chaves com etiquetas com números e deu uma para a sua esposa. 
  Então o casal nos acompanhou novamente por um longo corredor mal iluminado, com poucas velas pela metade. As portas que passamos pelo caminho estavam todas fechadas e aparentavam não serem abertas a muito tempo. Não havia sinal de outro hóspede ou funcionário em nenhum lugar. 
  Depois de alguns minutos chegamos ao final do corredor, com uma porta na direito e outra na esquerda e, encostada na parede entre as duas, uma mesinha comida por cupins, empoeirada. Em cima dela havia um jarro de prata também empoeirado com algumas flores murchas que deduzi terem sido lindas rosas vermelhas um dia.
  A senhora, que era bem mais baixa que eu, foi abrir a porta da direita enquanto o senhor abria a porta da esquerda e entrou lá com o meu marido. Ela me segurou pelo braço amigavelmente e me disse com um sorriso que me daria um banho. Entramos no cômodo e ela foi abrir as cortinas para que a luz da lua clareasse um pouco o ambiente. A poeira subiu e eu espirrei duas vezes. Olhei ao redor e notei uma grande banheira de madeira no centro, uma cômoda com um castiçal grande, um armário e uma cadeira. 
  A velhinha foi até a cômoda e acendeu duas velas do castiçal ajudando a clarear um pouco as coisas. Ela abriu uma gaveta e pegou uma toalha. Abriu outra e pegou uma esponja e um pote, que eu imaginei ser de sais de banho, e deixou tudo em cima da cômoda. Veio em minha direção e começou a me despir, desamarrando os laços de cetim negro. Tirou o meu vestido e começou a tirar a minha roupa de baixo, desatando facilmente cada nó do meu espartilho e me surpreendendo com a sua experiência nesta tarefa. 
  - Você tem um belo corpo. Uma pele tão clara, macia e suave... - ela disse enquanto pegava as minhas roupas do chão e via a minha pele arrepiada de frio.
  Eu agradeci com um sorriso, mas ela não viu já que estava de costas para mim, guardando minhas roupas no armário. Rapidamente ela voltou e, segurando a minha mão, me levou até a banheira e me ajudou a entrar. A água estava morna e eu agradeci internamente por isso, já estava tremendo de frio. Enquanto eu me sentava, ela foi até a cômoda, pegou o potinho e a esponja e voltou. 
  Despejou o conteúdo do pote na água e chacoalhou um pouco produzindo uma espuma branquinha e cheirosa que me relaxou imediatamente. Ela pegou a esponja e começou a esfregar delicadamente os meus braços, meu pescoço... Encharcou um pouco a esponja e apertou sobre a minha cabeça e eu pude sentir a água escorrer pelos meus cabelos. 
Eu estava quase adormecendo de tão relaxante que estava o banho, quando ela falou:
  - Você deve estar muito feliz, ele será tão bom pra você. E vocês formam um belo casal. Aliás, você é uma bela moça. Tão linda! E ficará ainda mais bonita... Ficará perfeita!
  Aquilo me despertou e me lembrou do que aquela mulher havia me falado na saída da catedral, após o meu casamento, mas eu procurei não demonstrar.
  Terminado o banho a velhinha me entregou a toalha e, enquanto eu me secava, ela foi até o armário e apanhou um outro vestido simples e preto que parecia uma camisola longa. Me vestiu e me perfumou com vários cremes e loções que também estavam na cômoda. Sentou-me na cadeira e penteou os meus cabelos com uma escova de cerdas macias. E quando eu percebi ela já estava de saída.
  Me levantei com o meu coração pesado e abri a porta. Olhei ao longo do corredor e nem sinal da velha senhora. Imaginei que ela tivesse entrado em alguma das portas. Fechei a porta atrás de mim e olhei o corredor por um tempo. As velas já estavam próximas do fim e eu realmente não queria ficar no escuro, por isso entrei rapidamente no quarto onde o meu marido tinha entrado momentos antes.
  O quarto estava escuro e eu demorei um tempo pra me acostumar. Não foi tão difícil por que duas grandes janelas deixavam a luz da lua entrar. Ali mesmo da porta eu podia ver a neblina lá fora. Dentro do quarto havia uma cama de casal bem arrumada com um lençol branco (finalmente algo branco no meio de tanta escuridão), dois criados-mudos, um armário pequeno e uma cômoda com um espelho sujo. Não avistei o meu marido em nenhum lugar então fui me sentar na cama pensando que ele talvez estivesse no banho ainda.
  De repente escutei o barulho de uma porta abrindo e de imediato olhei para a porta por onde tinha entrado. Estava fechada. Olhei ao redor um pouco alarmada e vi o meu marido vindo em minha direção. Pensei que em algum dos cantos escuros deveria haver uma outra porta. Ele veio até mim e parou na minha frente. Olhei diretamente para o seu rosto e não vi nada novamente.Talvez ele tenha dito alguma coisa, mas eu não ouvi. Então ele contornou a cama e se deitou para dormir e eu fiz o mesmo cuidando para que eu estivesse bem coberta por conta do frio.
  Rapidamente adormeci e no meio da noite acordei quase congelando. O meu cobertor tinha caído. Apanhei ele do chão e tratei logo de me cobrir. Quando já estava pronta para voltar a dormir ouvi o barulho de gotas caindo no chão. Imediatamente pensei que a outra porta por onde o meu marido havia entrado era de um banheiro e que ele deveria estar com um vazamento. Mas logo descartei essa hipótese; o barulho estava próximo. Poderia haver uma infiltração no quarto. Abri bem os ouvidos e não escutei o barulho de chuva. Me virei para trás e meu marido não estava lá.
  Fiquei um tempo fitando a parede e notei uma mancha estranha que vinha de cima. Lentamente fui seguindo a mancha até quase o teto.
  Encontrei o meu marido.
  E descobri de onde vinham os pingos.
  Foi a coisa mais terrível que eu já vi em toda a minha vida.
  Ele estava preso na parede por fios vermelhos que me pareceram veias e artérias. Seus braços pendiam para os lados e sua cabeça estava virada revelando, pela primeira vez, o seu perfil. Um dos seus olhos estava solto e pendurado, sua bochecha estava suja com o seu próprio sangue. Seu corpo aparentava ter sido aberto por uma implosão nas costas e alguns dos seus órgãos haviam se grudado na parede o no teto e foram cobertos pelos mesmos fios vermelhos.
  Meu medo era tão grande que eu não conseguia me mover, pensar e nem mesmo gritar. Aquilo parecia o pesadelo e eu estava certa de que a qualquer momento eu despertaria. Eu não piscava. Quando dei por mim já estava correndo pelo corredor. Olhava as portas antigas passarem rápido por mim. Via as velas chegando ao fim. Via suas pequeninas chamas bruxuleando quando eu passava. E via a luz atrás de mim agitada assim como eu. E cada vez mais fraca. Assim como eu.
  Corria o mais rápido que podia e não me atrevia a olhar para trás. O corredor parecia não ter fim. A esta altura eu já deveria ter chegado ao saguão de entrada... não demoramos tanto para chegar ao fim do corredor. Vários minutos se passaram e eu ainda estava correndo... Cada vez mais devagar. Cada vez mais cansada. Cada vez mais ofegante.
  Tinha que ir mais rápido, as velas estavam no fim e eu não queria ficar no escuro. Tinha que ter alguém acordado para me ajudar. Por quê não tem ninguém aqui? Por quê esse corredor não chega ao fim? Por quê eu não acordo de uma vez?
  Não adiantava... Eu não chegava ao fim nunca...
  Parei por um momento para recuperar o meu fôlego e me apoiei nos joelhos. Aos poucos a luz ao meu redor foi esvaindo-se. E tudo foi ficando cada vez mais escuro... e mais escuro... e mais escuro... até não ter mais nenhuma fonte de luz...
  E agora as minhas lágrimas escorriam descontroladamente pela minha face. Eu não emitia som algum, os soluços estavam presos na minha garganta quase me asfixiando. Estendi uma das minhas mãos à procura de uma parede para me recostar e tentar me acalmar. Não encontrei nada. Estendi a outra. Nada novamente.
  Isso não era possível; o corredor era estreito o suficiente para que eu alcançasse as duas paredes com os meus braços abertos... Não faz sentido agora eu não encontrar nada. Eu chorava mais ainda. O que estava acontecendo? Aquilo não podia ser verdade... simplesmente... não podia estar acontecendo.
  Me sentei no chão frio e senti todo o meu corpo estremecer. Tudo ia acabar bem, logo logo iria amanhecer e eu iria só... me acalmar... e esperar... Então a luz reacendeu, ofuscando a minha visão. Levei alguns segundos para me reacostumar e olhar ao redor. O corredor estava exatamente do mesmo jeito que o encontrei quando cheguei ao hotel: as velas pela metade, as paredes no lugar e eu podia ver o inicio e o final. Pensei que eu finalmente tinha acordado daquele pesadelo e estava prestes a me levantar e correr para a saída quando as velas se apagaram de novo. E o pânico me invadiu de novo. Estiquei um dos braços e não encontrei parede nenhuma... Foi só uma ilusão? Eu estava confusa e com medo e, de repente, as luzes acenderam novamente para comprovar a minha insanidade. Olhei rápido ao redor e não havia ninguém ou nada fora do comum. Todas as portas fechadas e nem sinal do sol. E, novamente, quando pensei em me levantar, as luzes se apagaram. O frio e o medo me invadiram numa velocidade tão rápida que eu pensei que iria desmaiar. E então as luzes acenderam novamente. E se apagaram. E acenderam. E apagaram. Quase tão rápido quanto a minha respiração.
  A cada vez que as luzes acendiam, eu olhava ao redor a procura de alguma coisa, qualquer coisa... com medo do que poderia encontrar. Meu coração estava acelerado, o barulho dos seus batimentos era o único em todo o corredor. Estava tão alto em meus ouvidos que me faziam ter fortes dores de cabeça. Meu corpo fraquejava e tremia em oscilações cada vez mais frequentes, que descobri estar de acordo com o acender e apagar das luzes. A minha mente imaginava todo tipo de coisa enquanto as luzes estavam apagadas e procurava ansiosamente ao meu redor o que quer que fosse. Meu estômago dava voltas e voltas. Meus olhos arregalados, minha pele pálida, minha cabeça virava de um lado pra outro o tempo todo, minha respiração alta e minhas lágrimas me encharcando.
  Eu abracei forte as minhas pernas e abaixei a cabeça. E então pude ouvir longe... Era a mesma voz...
  - Como você está linda. Tão perfeita! Nossa, você está linda! Linda!
  Era a voz da mesma mulher que estava na igreja. Ela estava se aproximando. As luzes demoravam para reacender. Acenderam.  Eu olhei ao redor, inicio ao fim do corredor. Ninguém. Mas a voz continuava. Continuava se aproximando de mim. As luzes apagaram. A voz estava mais alta. As luzes acenderam. Ninguém. Apagaram... e a voz continuava. Acenderam... e não havia ninguém lá.
  Meu Deus! Por quê aquilo não parava? Eu não sabia por quanto tempo aguentaria... Ela estava se aproximando e não parava de repetir a mesma coisa, as luzes não paravam de acender e apagar... eu não parava de chorar...
  Então as luzes se acenderam.
  Talvez eu preferisse que continuasse tudo escuro.
  Em pé, na minha frente, estava a mulher que falou comigo no fim do meu casamento. Ela se abaixou e eu pude ver que no lugar dos seus olhos havia apenas dois grandes buracos escuros e vazios. Ela chegou bem perto e falou:
  - Linda... Você está linda... Per-fei-ta.
  As luzes apagaram. Eu entrei em pânico. Chorava como nunca havia chorado antes. Não podia ver nada, mas a imagem daquelas órbitas escuras não saía da minha mente. Fiquei com os olhos bem aberto olhando para frente e esperando que qualquer coisa acontecesse. Podia sentir a respiração gelada da mulher no meu rosto, balançando os meus cabelos. E as luzes acenderam.
  E bem na minha frente, quase me tocando, estavam aqueles vazios estranhos que substituíam dois olhos. Estava me encarando como se tivesse olhos. Estava ali, perto... sem pálpebras... só o escuro... Eu me afastei rápido me arrastando no chão e toquei em alguma coisa atrás de mim. Olhei pra cima e vi o casal de velhinhos, proprietários do hotel, seus olhos estavam do mesmo jeito... ou melhor, não estavam...
  Eles me encaravam como a mulher. Eu olhei pro lado procurando por uma saída e vi o padre, que realizou o meu casamento, sem olhos. Olhei para o outro lado e vi meu marido, em perfeito estado novamente, exceto pela falta de olhos. Percebi que também as beatas da igreja estavam lá, com seus véus e sem os seus olhos. Todos extremamente pálidos, sorrindo pra mim...  me elogiando ao mesmo tempo, sem parar.
  Eles começaram as se aproximar de mim, com as mãos estendidas, se agachando e tentando me alcançar. Eles não paravam de falar, se sorrir, eles não se afastavam, não importava o que eu fazia, se os chutava, se me debatia, se os empurrava. Nada que eu fazia surtia efeito.
  Eu chorava alto, gritava por socorro, soluçava e me debatia. o desespero me dominou por completo, meu instinto de sobrevivência fazia de tudo para me tirar dali, mas aquelas mãos estavam por toda parte, aqueles toques gelados não me deixavam ir, aquelas vozes não se calavam, aquelas faces, sem olhos, tão próximas e os sorrisos; eu não conseguia mais respirar, não conseguia me mover, não conseguia me libertar...
 Então as luzes apagaram.


                   

sexta-feira, 25 de maio de 2012

Perfeição



Inglaterra, 1862. 

  O inverno estava próximo, a noite estava escura e eu estava prestes a me casar. 
  Meu longo e rodado vestido de noiva era negro como a noite e suas fitas negras conseguiam ser brilhantes como a lua cheia daquele céu sem estrelas.
  Eu estava em uma carruagem revestida por camurça preta em seu interior e seus acentos confortáveis eram feitos de veludo preto. Me distraí comparando o brilho dele com o das fitas do meu vestido quando a carruagem parou repentinamente. Abri a porta com maçanetas douradas e vi uma enorme catedral que seria belíssima, não fosse a assustadora escuridão da noite que a acobertava e o reflexo da luz da lua em todas aquelas janelas e mosaicos. 
  Olhei para trás e vi que a carruagem era puxada por dois belos e fortes cavalos de pelo negro e crina sedosa. Não avistei nenhum cocheiro por perto.
  Entrei na catedral que parecia ainda maior por dentro. Estava quase mais escura do que a rua lá fora já que eram poucas velas para um ambiente tão grande e praticamente vazia, a não ser pela presença do padre, do meu noivo e de 3 ou 4 beatas que se sentavam afastadas umas das outras nas primeiras filas de cadeiras usando véus pretos como se estivessem de luto. 
  Iniciou-se uma marcha nupcial muito mal tocada e eu fixei-me nos longos tubos do órgão sem perceber se havia ou não alguém o tocando. Fui me aproximando do altar e podia ouvir as mulheres chorando e soluçando baixinho, com suas cabeças baixas e cada uma com seu terço. Aquilo me deixou um pouco aflita, mas eu continuei o meu percurso até me posicionar ao lado do meu noivo, que não era muito mais alto que eu. Tentei olhar o seu rosto, mas não conseguia ver nada além de uma profunda escuridão. Olhei para o padre e ele estava com a cabeça baixa, sua boca se movia, mas eu não consegui ouvir nenhum som. Me aproximei e ainda assim não ouvi nem mesmo um sussurro.
  Não me lembro de ter dito o esperado "sim" ou mesmo ter ouvido alguma coisa além do choro daquelas mulheres, só me lembro que, ao fim da cerimônia, eu e meu marido saímos da catedral. E eu não joguei o buquê. Uma mulher me parou no caminho e ficou me analisando calmamente, com uma feição amistosa, por alguns minutos, até que por fim ela falou:
  - Ah, você é tão linda. Vai ficar tão perfeita depois que tudo acabar! Você é a pessoa certa. Vai ficar tão bonita...
  Apesar da sua voz ser amigável e suave, por algum motivo eu senti algo estranho enquanto ouvia seus elogios. Quando ela estava prestes a tocar o meu rosto o meu marido me encaminhou pelo ombro até a carruagem que nos aguardava na frente da igreja, exatamente onde eu a tinha deixado.
  Entrei primeiro na carruagem e acomodei. Enquanto ele subia, eu tentei novamente ver o seu rosto, mas nada transparecia daquela escuridão, o que me causou um certo desconforto. Estávamos indo para um hotel passar a nossa noite de núpcias e eu não sabia quem me acompanhava... Não sabia quem era a pessoa que tinha acabado de se casar comigo...
  Tentei não pensar nisso durante o percurso e muito menos olhar diretamente para ele. Prestei atenção novamente no interior da carruagem e nos solavancos que aconteciam de tempos em tempos por conta dos buracos e das irregularidades do caminho. Ninguém pronunciou uma palavra sequer.

CONTINUA.

quinta-feira, 17 de maio de 2012

domingo, 6 de maio de 2012

Eu sei...


Se existisse uma fórmula.. Talvez tudo fosse mais simples.. Um passo-a-passo de como agir nessa vida e não errar sem querer..
Eu sei que o caminho é longo, é cansativo. Eu sei que o trabalho é árduo, que a noite é curta, que um dia leva uma eternidade. Eu sei que existem mil e uma outras coisas mil e uma vezes mais interessantes e divertidas. Eu sei que não há como eu saber como você se sente agora, mas você não precisa sentir sozinho.
Não há segredo, maneira, manual. Nada.

A luta é sua. Só você é capaz de decidir quem vence.

Persistir, insistir e nunca desistir. Você sempre ouviu isso. Mas você nunca viveu isso. É muito mais difícil do que você pensava, não é? Por quê tudo não pode voltar a ser como antes, quando só bonecas ou carrinhos importavam?

Você cresceu; as coisas mudaram tão rápido que você mal conseguiu acompanhar. Será que você mudou também? Está mais alto, talvez? O que isso significa?
Agora você é adulto.
Nossa, essa fase parece ser mais complicada que a adolescência e suas paixonites!
Você gostaria estar fazendo tantas outras coisas... tanto. Jogar tudo pro alto e desistir.
Mas há um detalhe: quando você cresceu, e as coisas mudaram.. você não ficou apenas mais alto.

Você se tornou FORTE. E a sua força é a sua fortaleza e também os seus alicerces.

Agarre-se nela e não desista ainda. Coisas fantásticas estão por vir. Eu sei...

terça-feira, 1 de maio de 2012

domingo, 11 de março de 2012

Estrela Cadente



Do alto, há anos luz de distância, na imensidão do universo, observava incansavelmente aquele a quem dera seu coração, mesmo que sem aviso prévio. Há tanto tempo o admirava de longe, há tanto tempo o almejava. Seu amor era incrivelmente maior que o seu brilho, mas nunca seria maior que o brilho do olhar dele, porque ele era o ser mais perfeito já visto durante todos os muitos anos de sua existência.
Ela simplesmente não sabia o que mais a atraía naquele olhar: a simplicidade, a paz, a beleza ou aquele brilho sem igual. O brilho que incide mais que qualquer astro. O brilho que ilumina a qualquer distância. O brilho que é mais do que visível. O brilho que alcançou cada cantinho do seu coração. E que a preencheu por completo.
Mas, ultimamente, tem havido algo de estranho com seu amado. Ele anda cabisbaixo, tristonho, aparentemente infeliz. Por muito tempo ela pôde perceber que ele sempre estava sozinho, nunca se aproximava de ninguém. Por vezes ela até se alegrava por ele não se aproximar de garotas, mas agora ela podia sentir que a dor da solidão de uma imensa estrela também pode ser a dor de um minúsculo rapaz. Ela sabe o quanto ter um coração para alegrar faz falta e como alegrar um coração pode alegrar a vida de uma pessoa, ou uma estrela, por inteiro.
Passou horas bolando planos para tentar reverter a tristeza da face daquele que possuía o sorriso mais belo de todo o universo. Enquanto isso, na Terra, a noite se instalava e um olhar distraído interrompeu seus pensamentos. Mesmo distante ela podia olhar dentro dos seus olhos e sentir a dor do deu olhar. Não sabia nem mesmo o seu nome, mas sabia que tinha que fazê-lo sorrir de algum modo e que àquela distância nada poderia fazer.
De repente, ela percebeu que aqueles olhos, os mesmo que ela admirou durante anos, agora a admiravam. Ela não era a estrela mais brilhante do céu, não era a mais bela, mas alguma coisa finalmente chamou a atenção do rapaz, que a olhava fixamente.
Naquele momento ela sentiu que o seu lugar não era no céu, longe do amor, longe daquele olhar. O seu lugar era na Terra, com o seu amor e aquelas suas lindas estrelas, que nesse momento estavam chorando. Sem pensar duas vezes ela, velozmente, se foi em direção a Terra. Passava pelos outros astros tão rapidamente que eles não conseguiram nem reconhecê-la, ou talvez nunca a conheceram realmente. O seu amor e o seu desejo a empurravam cada vez mais rápido. Ela já se aproximava da Terra e o seu peito explodia de excitação e ansiedade. Ver cada vez mais perto aqueles olhos brilhantes não podia ser comparado a absolutamente nada.
Foi quando ela chegou à atmosfera terrestre e todo o seu corpo foi coberto por um calor quase tão imenso quanto o seu amor. E foi a isso que ela associou: ao calor do amor, à proximidade do seu amado. Mas o seu curso foi alterado contra a sua vontade. Ela estava se distanciando do seu amor, indo para outra direção e se aproximando, na verdade, do oceano. O desespero a infestou e tudo que ela pode fazer foi fechar os olhos e, com todo o seu coração, desejar que naquele momento ele sorrisse verdadeiramente...

Os olhos não se desgrudaram da estrela nem por um momento. Ela passava pela atmosfera deixando para traz um rastro brilhante. “Essa é uma estrela especial”. E a estrela se afastava rapidamente, mesmo que para os olhos de brilho equivalente, esse momento durasse a eternidade. Eles, então, se fecharam e, com todo o seu coração, ele desejou um amor verdadeiro, como o seu sorriso.

E quando abriu os olhos novamente ela conseguiu ver o sorriso mais lindo e verdadeiro do universo e já estava pronta para passar o resto da eternidade ao lado de outras estrelas, no fundo do mar. E se deixou invadir pelas quentes águas do amor para repousar agora numa imensidão muito menor que a de costume.

sexta-feira, 10 de fevereiro de 2012

Coisas Que Me Deixam Feliz


Praia ou clube vazio. Tardes de inverno frescas e ensolaradas. Água gelada. Bons filmes. Horas de conversas com os amigos. Burger King. Cerejas. Balas de Framboesa. Contar uma piada e todo mundo rir. Música. Música. Música. Bacon. Natureza. Crianças. Ursinhos de pelúcia. Lugares calmos. Internet. Bom humor. Cordialidade. Poemas. Meus amigos. Dexter (meu mp4 -q). Insulina (a hamster da minha irmã -q). Os cachinhos do meu cabelo (quando estão obedientes -q). Festas. Bebidas quentes em dias frios. Lembrar de coisas boas. Acordar tarde. SMS fofinhos e inesperados. Beijos lentos. Sorrisos sinceros. Água de coco gelada. Noites de sono. Nascer e pôr do sol. Confidências. Saber que eu faço o seu sorriso. Conversas até a madrugada. Fotos. Rock n' roll. Comprar roupas e sapatos. Colarzinhos e pingentes. Blogs de humor. Família. Facebook. Shopping. Acampar. All Star. Sábado. Voz e violão. Festa do pijama. Ar condicionado. Brigadeiro. Dançar. Caminhar na praia. Filmes legendados. Noite dos filmes em casa. Fones de ouvido. Olhar a paisagem durante a viagem. Empolgação. Banho com música alta. Abraços. Gargalhadas. Programas de índio (amo). Livros. O cheiro 'dele'. Anime. Guitar Hero. Flores. Dormir em dias de chuva. Jogos de tabuleiro. Cheiro de livro novo. Paz e Amor. Ficar sozinha em casa. Travesseiro macio. Rio. Sombra e brisa. Filhotinhos.      Personalizar roupas. Tattoos. Mitologia. Histórias de terror. Matar zumbis (desestressa, sério). Lápis de cor com ponta grande. Tim infinity (ou beta, né?). Sinceridade (não é grosseria, ok?). Mario (o game). Música. Música. Música. Conversar baixinho. Rir alto. Camisas brancas. Conhecer lugares novos. Escrever. Sair com os amigos. Pizza. Achar dinheiro no chão. Séries. Cheddar. Pepsi Twist. Pintar as unhas. Levar horas pra escolher uma roupa pra usar. Emoticons fofinhos. Dormir com camisa de homem. Massagem. Andar de mãos dadas. Pisar no chão gelado. Otimismo. Rabiscar papel em branco. Férias. Kiwi. Torta doce. Céu azul. Deitar no sofá. Ler de noite. Sabonete cheiroso. Banho demorado. Sandália de dedo. Sentar na grama. Entrar no msn e na mesma hora alguém vir falar comigo. Imagens legais na área de trabalho. Perfume masculino (é melhor que o feminino...). Ver outras pessoas felizes. Ver que eu fico feliz com muuuuitas coisas. Continua...

segunda-feira, 23 de janeiro de 2012

Simplesmente


Me impressiona um simples gesto de afeto. E me ganha.
Me impressiona como, simplesmente, a falta de um simples gesto de afeto me machuca.
Me impressiona um simples gesto de agressão. E me machuca.
Me impressiona como, simplesmente, a falta de um simples gesto de agressão me ganha.
É que tudo simples me impressiona quando é grandioso.