quinta-feira, 17 de janeiro de 2013

Boa Noite


Quando está escuro todos os medos se aproximam e não importa mais a idade. 

O ritual se repete todas as noites e, todas as noites, sempre que apago as luzes e sinto que a velocidade da escuridão pode ser tão rápida quanto a velocidade da luz, em algum lugar dentro de mim eu sei que devo me desesperar e esperar pelo pior. 

É à noite que a frio é mais intenso, que o escuro é mais intenso, que o medo é mais intenso. Posso não enxergar nada, mas sei que algo está ali, espreitando perto do guarda-roupa ou embaixo da cama, esperando que eu deite e adormeça para agir. Ou talvez espere só que eu me afaste do interruptor e caminhe até a cama. 

Então começo a me acostumar e meu olhos captam o mínimo de luminosidade que existe. 
E começo a perceber as sombras. E começo a perceber o movimento das sombras. E começo a perceber a proximidade das sombras. E começo a perceber que devo temer as sombras. 

O cobertor é único que pode me esconder, mas ele não camufla o cheiro do meu medo. E você sabe que todas as criaturas amaldiçoadas a viverem na escuridão podem sentir o cheiro de medo e se alimentam disso. Elas se aproximam de mim enquanto eu estou completamente coberta e respiram a poucos centímetros da minha face. E eu posso sentir o incomparável hálito frio desses seres. Eu posso senti-los se alimentando do meu medo durante toda a noite, me observando sobre o lençol. Eu não durmo, não posso me arriscar a baixar a guarda. É isso que eles querem. Querem levar-me para o lugar de onde vieram. 

Dormir é privilégio dos corajosos. Ou dos que têm um abajur. Para mim dormir é um sacrifício e eu o evitarei. 
Dormir é ficar vulnerável aos pesadelos.

6 comentários:

  1. Gostei mesmo desse texto, da forma que você desenvolve esse medo instintivo tão primitivo do ser humano, que é o medo do escuro, e, ao mesmo tempo, a sensação de vulnerabilidade do sono. Além disso, as palavras que você escolhe dão esse sentimento de sufocamento e angústia, praticamente transferindo o medo pro leitor. Agora o que mais atraiu foram os detalhes, o título e a hora do post. Dá a sensação de que você realmente está passando por isso enquanto escreve, o que faz com que eu queira te ajudar de qualquer forma possível - ficando mais angustiante ainda, pelo fato de eu não poder fazer nada.

    Ei, percebi os símbolos de paz, amor e tudo mais como fundo, na primeira vez que visitei seu blog, mas sempre esquecia de perguntar, então - isso significa que nós compartilhamos o mesmo amor pela década de 60 e toda a cultura hippie?

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    1. Pois é, pensei em escrever um conto de terror, mas preferi escrever só a sensação do medo mais conhecido de todos.
      A hora me inspirou e o título foi proposital. Eu tenho um pequeno problema com pesadelos quase todas as noites e alguns acabam sendo adaptados e viram contos aqui, outros só contos entre amigos mesmo, mas eu achei uma utilidade para eles. A intensão é fazer com que o leitor sinta o que eu sinto, deu certo? Acho que sim. Legal *-*

      Ah, sim! Sobre os símbolos! É isso mesmo, admiro muito a cultura hippie. Legal ver que alguém não relacionou isso ao Reggae, como acontece geralmente. U_U

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    2. Deu certo sim.

      Sabe que logo depois de eu ter te enviado a pergunta sobre os simbolos eu pensei: "Quer ver como ela vai me dizer que é por causa do reggae..." Haha!
      É bom ver que ainda existe alguém no mundo que se lembre dos hippies. Nada contra o reggae (nem nada a favor), mas o rock psicodélico e folk, na minha opinião, é bem mais interessante. Ah! como eu queria ter passado a minha juventude nesses tempos de Verão do Amor e Woodstock e Grateful Dead e Bob Dylan...

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    3. Nossa, eu pensei que pessoas assim estavam em extinção! Me lembrou uma professora de inglês do ensino médio que sempre tentava relacionar as aulas com a filosofia hippie, adorava as músicas dela...

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    4. Nós somos como pandas - raros, mas ainda vivos.
      Legal isso. Acho que nunca tive professores assim, exceto por um professor de biologia, se eu não me engano era do 3º ano do ensino médio. Ele que me convenceu de como era importante dar valor ao artista e não só suas obras (saber quem dirige um filme, compõe uma música e escreve um livro). Essas aulas mudaram minha forma de ver a arte, mas não me ensinaram biologia.

      Que mal pergunte - fiquei curioso agora -, que tipos de filmes, músicas e livros você costuma apreciar?
      Obs.: talvez você queira passar essa conversa para algum meio de comunicação mais dinâmico (e-mail, msn, skype, pombo-correio - são os que eu tenho disponível), do contrário vamos acabar enchendo seu post de comentários que nada têm a ver com o texto. Além disso, eu não vou ter que ficar preenchendo essa verificação de comentário infernal do google.

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    5. Awn, sempre quis ser um panda. Pretos, brancos, gordos, vegetarianos, asiáticos, sedentários e meigos... ou não.
      Enfim, se tiver Facebook me adiciona lá: http://www.facebook.com/vanessa.cardoso.1422
      E-mail: vaan_cardoso@hotmail.com
      E acho que com isso você já consegue achar o meu skype.
      É isso, conversamos por lá.

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