quinta-feira, 3 de abril de 2014

Tchau



Vamos começar com aquela frase, que todo mundo já ouviu, de Einstein, Charles Chaplin, Fernando Pessoa, ou seja lá a quem ela pertence de verdade: 
"Nós temos apenas duas certezas na vida: a de que nascemos e a de que, algum dia, vamos morrer."

Sabemos disso, mas negamos para nós mesmos que esse "algum dia" pode ser amanhã. Temer a morte é temer a certeza de que um dia não existiremos mais. E sim, eu vou ignorar qualquer vertente pós-morte. A morte é fim, para quem acredita ou não em vida após a morte. A morte é o fim entre os vivos e é isso que nos interessa: vida. Vida após a morte não nos satisfaz, ou teríamos mais suicídios. 

Mas estar vivo não nos satisfaz. Temos que viver. E viver não nos satisfaz. Temos que vivenciar. Nos marcar no mundo e marcá-lo em nós. 
Levamos a vida toda para nos conhecer, porque só no nosso último segundo de vida somos sinceros. 

Como eu sei disso? Porque eu me suicidei. 

Apresento-lhes, então, a minha declaração de suicídio. A Nota de Rodapé da última página da minha Biografia.

"Infelizmente eu morri. O processo foi lento porém necessário. Minha mente inquieta não me deixava dormir à noite, então, uma noite, eu pus fim àquilo tudo. E posso afirmar, entre todas as teorias sobre a morte que tive a oportunidade de ouvir, nenhuma se aproximou do que realmente é. Não dói, não cheira, não tem foice. O que posso dizer é que o fim é um alívio. Nunca mais vou ouvir aquela droga de despertador, nem descobrir que o leite da geladeira azedou. Aqui não há nada e eu estou muito bem com isso. Posso me libertar quando ninguém está olhando. Ninguém, eu disse. A minha bisavó não está aqui comigo. Agora eu tenho tempo pra pensar em tudo que não fiz e lamentar tudo que já fiz. Me descobri em toda essa liberdade. Sou uma verdadeira dona de mim mesma. Finalmente! O que posso dizer para você, senhor(a) mortal, é que a morte é o alívio da vida. É melhor que um sofá confortável depois de um longo dia de trabalho. É como  um rio de água morna e correnteza leve, onde você é conduzido docemente até o infinito. Eu decidi que estava cansada demais para continuar nesse lugar insano. Talvez eu já estivesse morta há muito tempo, sem saber, mas agora eu tenho certeza de que tudo acabou. E, felizmente, eu morri."

Vanessa Cardoso (1993 - 2014)

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